Evidências Perceptivas
desenho . pigmento s/ papel adesivo e pinus
20x20
2016
Parte da exposição individual H0ºR1’Z0.N”T3S,
realizada em 30 de outubro de 2016.
A paisagem é a visualidade de um território, e sendo um fenômeno da percepção, existe e é traduzida a partir de modelos que a retratam fazendo uso de elementos, como a linha do horizonte, e códigos, como a dimensão de profundidade, dada na representação pela perspectiva. Esta relação observador e paisagem indica um modelo cultural – um modo de olhar o mundo.
Em “Evidências Perceptivas”, nove paisagens de um mesmo contexto geográfico são traduzidas a partir dos limites de seus relevos, que permitem o reconhecimento da
paisagem apresentada por linhas, sem uso de cor e texturas.
Esta abstração é possível pois “considerada em si mesma, a paisagem é apenas uma abstração, apesar de sua concretude como coisa material”, como coloca Santos (2002, p. 70). A paisagem é percebida/reconhecida por conta de estruturas visuais como a perspectiva, mesmo não sendo figurativa. A perspectiva formaliza a realidade e faz dela uma imagem que será considerada real: operação bem-sucedida para além de toda esperança, porque permanece oculta, porque ignoramos seu poder, sua própria existência, e acreditamos firmemente perceber, segundo a natureza, aquilo que formalizamos por meio de um “hábito perceptual”, implicitamente. A própria dificuldade dessa “evidência” implícita que é a percepção em perspectiva mostra bem a fundura de nossa cegueira: nós não podemos ver o órgão que nos serve para ver, nem o filtro nem a tela pelos quais e com os quais vemos. E, do mesmo modo que não podemos nos situar fora da linguagem para falar dela, não poderíamos nos localizar fora da perspectiva para perceber: mancha cega do olho, da linguagem, macula. Então, é essa perspectiva, invenção histórica datada, que ocupa o lugar de fundação da realidade lugar de fundação da realidade sensível. Ela instaura uma ordem cultural na qual se instala imperativamente a percepção.
- MARIA, Yanci Lambert. Paisagem: entre o sensível e o factual. Uma abordagem a partir da geografia cultural. Dissertação (Mestrado emGeografia Física) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP). 2011.
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Evidências Perceptivas
drawing . pigment on adhesive paper and pine
20x20
2016
Part of the solo exhibition H0ºR1’Z0.N”T3S,
held on October 30, 2016.
The landscape is the visuality of a territory, and being a phenomenon of perception, it exists and is translated from models that portray it making use of elements, such as the horizon line, and encodes, such as the dimension of depth, given in the representation. by perspective. This relationship between observer and landscape indicates a cultural model – a way of looking at the world.
In “Evidências Perceptivas”, nine landscapes from the same geographic context are translated from the limits of their reliefs, which allow the recognition of the landscape presented by lines, without the use of color and textures.
This abstraction is possible because “considered in itself, the landscape is just an abstraction, despite its concreteness as a material thing”, as Santos puts it (2002, p. 70). The landscape is perceived/recognized because of visual structures such as perspective, even though it is not figurative. Perspective formalizes reality and turns it into an image that will be considered real: a successful operation beyond all hope, because it remains hidden, because we ignore its power, its very existence, and we firmly believe to perceive, according to nature, what we formalize by means of a “perceptual habit”, implicitly. The very difficulty of this implicit “evidence” that is perception in perspective shows the depth of our blindness: we cannot see the organ that serves us to see, nor the filter or screen through which and with which we see. And, in the same way that we cannot place ourselves outside of language to speak of it, we cannot locate ourselves outside of perspective to perceive: blind spot of the eye, of language, macula. So, it is this perspective, a dated historical invention, which occupies the foundation of reality, the foundation of sensible reality. It establishes a cultural order in which perception is imperatively installed.
-MARIA, Yanci Lambert. Landscape: between the sensible and the factual. An approach from cultural geography. Dissertation (Master in Physical Geography) - Faculty of Philosophy, Letters and Human Sciences (USP). 2011.